Biografia

Biografia da Vó Maria

Maria das Dores Santos, a nossa Vó Maria, nasceu em Mendes, interior do Rio de Janeiro, em 5 de maio de 1911. Na década de 30, casa-se pela primeira vez com Maciel Francisco dos Santos ficando viúva, antes de sua única filha, Nilza, completar três anos.

Nilza casou-se com Walter Pinto de Oliveira e dessa união nasceram os netos Sonia Regina e Walter Luiz, este último o xodó da avó a quem ela chamava de “vida da minha própria vida”.

Casa-se pela segunda vez com o jornalista João Conceição e sua casa transforma-se num dos palanques do Movimento Negro, tendo passado por lá o Senador Abdias do Nascimento, o sociólogo Guerreiro Ramos, o pesquisador Haroldo Costa, a Família Arruda, dentre outros. Nesta ocasião, Nilza, filha de Vó Maria, conhece Lygia Santos, filha de Donga, cuja amizade uniu as duas famílias.

Na década de 60 Vó Maria, já desquitada, e Donga, compositor de “Pelo Telefone” (primeiro samba gravado), reencontram-se e casam-se, unindo, definitivamente, as duas famílias. A sua casa, ao longo dos 15 anos em que conviveu com Donga, registrou encontros de rara beleza da música popular brasileira – rodas de samba e choro organizadas pela filha do coração, museóloga e pesquisadora Lygia Santos -, frequentados por Pixinguinha, João da Baiana, Martinho da Vila, Clara Nunes, João Nogueira, Xangô da Mangueira, Aniceto, Jorginho Peçanha, Walter Rosa, e muitos outros que resistiam e continuam resistindo para preservar a nossa cultura. 

Nesses encontros, Vó Maria já dançava o “miudinho” e mostrava o seu grande potencial como cantora, cantando partido-alto, ao mesmo tempo em que preparava a sua tradicional feijoada, que era muito elogiada por todos.

Aos 89 anos, participa da roda de samba Segunda dá Samba, a convite da jornalista e neta Zilmar Basílio. Essa foi a primeira vez em que Vó Maria cantou para um público de mais de 100 pessoas. Foi aplaudidíssima. 

Aos 90, anos torna-se presença constante nas rodas de samba do MIS, onde sempre foi convidada pela presidente Marília Barboza a dar uma canja.

Em janeiro e fevereiro de 2003, Vó Maria grava o seu primeiro CD, idealizado pela neta Sonia Regina Santos de Oliveira e financiado pelo Fundo Nacional de Cultura, na gestão do Ministro Francisco Weffort. O CD foi editado pelo Instituto Cultural Cravo Albin, tendo como produtora artística Marília Barboza, com a direção musical de João de Aquino.

Em 14 de janeiro de 2004 – na presença dos netos Sonia Regina e Walter Luiz; e dos bisnetos Dara Aisha e Rudá –, Vó Maria submeteu-se à prova da Ordem dos Músicos tendo sido aprovada com nota 10, por unanimidade. Neste mesmo dia, filiou-se ao Sindicato dos Músicos Profissionais do Estado do Rio de Janeiro.

No dia 9 de maio de 2004, Vó Maria realizou o seu maior sonho, o de ser homenageada, em praça pública, em Mendes, sua cidade natal. Vó Maria apresentou-se, a convite do Grupo Passagem de Nível, na Praça Dr. João Nery. A platéia contou com a presença de familiares: filhas do coração, genro, netos e bisnetos, os seus irmãos, sobrinhos, sobrinhos-netos, os quais não via há mais de 15 anos. 

Em 2011, Vó Maria volta a ser homenageada em Mendes pelos alunos da Escola Municipal Professora Maria Lopes, que elaboraram um livro com a sua biografia e pelo Grupo da Terceira Idade do Centro de Convivência do Idoso Vó Maria.

Dentre as muitas homenagens recebidas pela Vó Maria pode-se citar: a Medalha de Honra da Mulher pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro; a Medalha Nossos Griots, pelo Dia Internacional da Mulher Negra da América Latina e Caribe; a Medalha Pedro Ernesto recebida das mãos do vereador Edson Santos; a Medalha da Ordem do Mérito Cultural, recebida das mãos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do então Ministro da Cultura Gilberto Gil; o Troféu Dandara, que lhe foi agraciado pelo Renascença Clube; e o Prêmio Camélia da Liberdade, conferido pelo Centro de Articulação das Populações Marginalizadas (Ceap).

Mas a honraria que mais a deixava feliz era ser chamada de “VÓ MARIA”, pela infinidade de netos de consideração dos quais ela se orgulhava. Dizia que a festa que mais a emocionou foi a dos seus 100 anos, quando reuniu seus cerca de 900 “netos”.

Em 2013, prestes a completar 102 anos, Vó Maria comemorou os 10 anos do seu CD “Maxixe não é samba”, cujo relançamento ocorreu, juntamente com uma exposição que lhe foi oferecida pelo pesquisador e produtor musical Ricardo Cravo Albin, no Instituto Cultural Cravo Albin.

Em 16 de maio de 2015, Vó Maria virou estrela deixando um rastro de amor e alegria.

Agora só nos resta pedir uma salva de palmas para a nossa Vó Maria e desejar que ela siga em paz.